quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
terça-feira, 14 de junho de 2011
- De desejos, 29º missão.
- De buscas, 28º missão.
- De canções, 27º missão.
- De Kvothe, 26º missão.
- De Fingolfin, 25° missão.
- corra, 24° missão.
Em algum lugar dos cinzentos becos da periferia, um garoto movia-se rapidamente correndo entre os corredores escuros. Atrás dele, colados as suas costas, vinham dois perseguidores cobrindo rapidamente o terreno que os separava, seus passos firmes chocavam-se com as poças no chão irregular e acidentado, fazendo a água suja respingar para longe em varias direções.
Acima deles, o céu estava coberto por grades e majestosas nuvens cinzentas, que tornavam o dia escuro, algo que lhe dava um aspecto um tanto triste, algo próprio para o que fato que iria ocorrer naquele fim de tarde. Raios cruzavam o céu constantemente, clareando o escuro caminho que se estendia à frente como faixas de luz e seus trovões altos e estrondosos, ecoavam pelos corredores levantados por grossas paredes de tijolos avermelhados. Grandes gotas de água desciam do céu tempestuoso explodindo quando se encontravam com algum alguma resistência, ocasionalmente, o rosto do fugitivo.
O fugitivo, por ser alto, esguio e ligeiramente magro, conseguia correr muito rápido, algo que os dois homens atrás dele, que possuíam um porte mais robusto, não haviam calculado direito em sua insensatez. Suas pernas, compridas e finas, lhe davam velocidade para correr com grandes passos e impulso para saltar os obstáculos que apareciam ocasionalmente em seu caminho, que muitas vezes não passavam de sacos de lixo, entulho ou até, pequenos animais. Seu rosto pálido e de aparência cansada, com traços e linhas bem definidas, mostrava uma mascara de medo e tensão, que era vislumbrada pelos perseguidores toda vez que ele o virava para trás procurando calcular a distancia. O suor que se misturava com a água da chuva, descia pelo rosto em finas linhas, começando de seus cabelos claros e terminando, por muitas vezes, em seus brilhantes e pequenos olhos claros ou, em raras oportunidades, em sua fina e pequena boca, trazendo-lhe um gosto estranhamente salgado, algo o qual não dava a mínima atenção, não no momento. Sua blusa negra e de um tecido grosso e quente, que em teoria o protegeria do frio, estava completamente encharcada com a água da chuva, seu zíper da frente estava fechado apenas até a metade, onde seu braço, coma manga machada de sangue, entrava por dentro dela e parecia pressionar algum ferimento. Suas calças jeans eram escuras e desciam até o par de tênis, que já não lhe oferecia qualquer proteção contra a água da chuva que estava na rua em poças ou correndo pelas extremidades, molhando sua meia e lhe causando muito frio, mas, isso não importava, só precisava continuar correndo até estar a salvo, até deixar os dois homens para trás e estar no conforto da sua casa, poder ver seus pais novamente, poder conversar com ela...
Atrás dele, a dupla de perseguidores vinha a toda velocidade, um era alto e robusto, de ombros largos e braços grandes, pele de cor escura e um sorriso malicioso cobrindo o rosto. O outro era menor, de cabelo escuro e curto, pele clara e um olhar ameaçador. O grande perigo para o garoto que corria desesperadamente pela sua vida estava no par de grossas e brilhantes facas que os dois portavam firmemente nas mãos. A que o garoto menor segurava, reluzia uma mancha avermelhada.
Após alguns minutos de corrida frenética, o fino solado do tênis do fugitivo não lhe deu proteção contra um grande prego enferrujado que estava preso a um pedaço de madeira velho, cujo repousava no chão. Ele penetrou pela borracha e cravou-se profundamente no pé do garoto, que sentiu a aguda dor do ferro rasgando sua carne. Em vão, tentou dar mais um passo, porém, o prego não se soltou de seu pé e o pedaço de madeira ao qual ficou preso por conseqüência, continuou lá, fazendo sua perna fraquejar perante a dor e perder o apoio que deveria dar. Por fim, tombou para frente em um baque surdo que ecoou mais alto que qualquer trovão, pelo menos para ele. Seu rosto chocou-se de frente com o concreto frio e molhado.
A dor de seu dente rachando-se contra o chão foi forte, a dor do prego enferrujado dentro de seu pé era muito forte, mas nada se comparava com o medo que tomou conta de cada célula do seu corpo quando percebeu que caminho tudo isso estava tomando, talvez um caminho sem volta.
Seu corpo tremia muito, mas não sabia se era por causa do medo ou do frio, virou-se para a direção de onde veio e observou o semblante escuro dos dois homens aproximando-se e entrando em seu campo de visão, graças a uma fraca lâmpada que pendurava na parede mais próxima. Com a mão direita, puxou o pedaço de madeira com força e conseguiu tirar junto o prego que lhe causava tanta dor, depois, atirou-o para o lado com força.
A cada passo que a dupla dava, o garoto sentia um pedaço de esperança sendo quebrado bem a sua frente. Uma sensação terrível tomou-o por completo, um medo absurdo de que talvez não pudesse sair daquela situação com vida, algo impossível de ignorar.
O vento gélido soprava forte e o garoto sentiu seu corpo estremecer em espasmos de calafrios, seu peito queimava como brasa graças ao ferimento que o haviam causado há alguns minutos atrás, antes da fuga. A respiração arfante vinha em grandes impulsos de ar, que eram puxados com força, o ar frio entrava em seus pulmões queimando-o fracamente, mas, causando grande incomodo. Usado o resto de força que lhe restava, que não era muito graças à corrida, colocou os dois pés no chão, a dor subiu pelo pé perfurado, mas não se importou. Com um fraco gemido, escorou-se em uma parede com as mãos, usando-a de apoio e pôs-se de pé com dificuldade. Depois, ficou frente aos dois homens que haviam parado a poucos metros dele e os fitou com um olhar firme, um olhar brilhante que entre a escuridão, dançou maliciosamente estudando os dois. Eles o observavam firmemente também, mas, com menos cautela, graças à vantagem numérica e por estarem armados, esbaldavam a confiança que possuíam, talvez, a única vantagem do fugitivo.
O garoto não saberia dizer quanto tempo ficaram parados ali com os olhares se encontrando, também não sabia dizer o que passou pela sua cabeça naquele momento, mas, por um momento, pensou ter ouvido uma voz, uma voz vindo de longe, quase como um sussurro inaudível em meio ao fraco assobio do vento gelado que atravessava o corredor.
Uma gota desceu com força dos céus, e, por obra de um cruel destino, caiu em seu olho esquerdo. No exato momento em que piscou para limpar a visão que se tornou embaçada por alguns segundos, os dois atacantes vieram em sua direção em uma rápida investida atravessando o corredor em poucos e compridos passos, e logo, o espaço entre eles parecia ter diminuído em um instante. Antes que pudesse pensar em como ia defender, um punho fechado veio em uma velocidade absurda e acertou-o no lado da cabeça, acima da orelha, empurrando-o para trás. Sua visão embaçou por causa do choque, mas, antes que pudesse revidar, outro soco acertou seu rosto, dessa vez, vindo do outro homem. Seu nariz espirrou um curto jato de sangue vermelho, causando uma dor alucinante que o deixou atordoado por alguns instantes, algo que poderia decidir o futuro da briga. Deu alguns passos para trás procurando ganhar tempo para recobrar os sentidos, mas, sentiu uma pontada de dor queimar-lhe o abdômen e sentiu algo quente escorrer pela sua pele e descer pela barriga em uma linha.
Um frio insuportável inundou seu corpo cobrindo-o de ponta a ponta e penetrando até os ossos. Atordoado e com muita dor, jogou as costas contra a parede em um pequeno e violento salto. Seus dedos tremiam muito, mas, mesmo assim, colocou a mão por dentro da abertura da blusa encontrando no novo ferimento, mais profundo e mais dolorido que o primeiro. Ao puxar a mão de dentro da blusa, viu que ela estava encharcada de sangue fresco, observou-a incrédulo e voltou-se para os dois homens que assistiam a tudo.
Com uma explosão de energia, causada pela dor e desespero, partiu em fúria na direção do homem que estava mais perto, que se assustou e não conseguiu reagir, sem emitir qualquer barulho. O punho fechado do garoto acertou-o no rosto com força, fazendo o homem dar um passo para trás, logo depois, sem perder tempo, outro golpe acertou o homem de pele escura com força, dessa vez, na boca do estomago, fazendo o corpo dele inclinar-se para frente tentando suportar a dor. Um gemido saiu de sua boca como se tentasse esconder isso do companheiro, que observava tudo sem reagir, talvez por choque do ataque violento e instantâneo, talvez por analisar o homem que vinha com ele e suas ações, talvez até por sentir medo.
O homem, agora ferido, investiu para cima do garoto com um grave urro de raiva, porém, isso não intimidou o garoto, que se abaixou rapidamente desviando do soco que tinha seu rosto como destino, depois, com um ágil movimento, virou-se de costas para o atacante dando um rápido giro, com o impulso que havia ganhado, levantou a perna e chutou-o nas costelas. O homem soltou um grito muito agudo, colocou a mão sobre a costela que havia sido golpeada e deu alguns passos para trás.
O momento heróico durou pouco, o homem que esteve apenas observando tudo, em um golpe rápido, acertou o punho fechado nas costas do garoto, fazendo-o perder a força e, nesse momento, enrolou os braços em torno dos dele, enroscando-se como uma cobra, deixando o garoto virado para o homem que havia acabado de golpear, mas agora, estava indefeso.
- Segure-o bem, não vou ter dó desse filho da puta! – grunhiu com raiva o homem parado a frente do garoto, uma linha de saliva escorreu da sua boca, mas ele pouco se importou.
- To fazendo isso, anda logo e acaba com ele! – berrou o homem mais alto, que segurava o garoto.
Ao se aproximar do menino, deu-lhe um soco com muita força na boca do estomago, fazendo-o inclinar-se para frente. O ar que foi respirado com muita dificuldade no segundo anterior, deixou os pulmões do garoto, que, sem ar, só não desabou no chão porque estava preso.
- Ta gostando? – perguntou ironicamente o sujeito aproximando o rosto do rosto do garoto preso. – eu posso fazer a dor parar se você quiser. – terminou fechando a mão envolta do ombro direito dele e, com um pequeno impulso, acertou-o no estomago novamente, agora, com uma forte joelhada.
- Ele não está nem gemendo, acerta ele com mais forçam porra! – disse o homem que o segurava com o tom de voz cada vez mais alto.
Novamente, o garoto foi golpeado, dessa vez, um forte cruzado encontrou seu olho esquerdo.
- Eu to acertando ele com toda a minha força, vai ver, o viadinho já desmaiou. – respondeu o sujeito observando o garoto que parecia não ter forças nem para continuar de pé.
Um abafado e curto riso veio do garoto.
- Você não vai conseguir me fazer gemer do mesmo jeito que a sua mãe gemeu ontem à noite. – disse com desdém na voz, levantando a cabeça e olhando para o homem parado na sua frente. Seus olhos esverdeados, agora não tinham nenhum brilho e seu rosto pálido lhe deu uma aparência estranhamente sombria.