O gélido vento de uma noite de outono atravessava a rua como um sussurro ríspido e triste, acompanhando-o vinham os últimos olhares nervosos e esperançosos observando o movimento quase morto de suas janelas altas e protegido nos prédios cinzentos e antigos que se estendiam em direção ao céu rasgando-o como a ponta de uma faca.
Em um desses prédios, não no mais bonito e nem no mais feio, morava Edward.
Claro, aos 20 anos, era difícil para ele manter o aposento completamente limpo e arrumado, algumas roupas estavam espalhadas e amassadas no chão do único quarto, sua cama estava desarrumada a dias e sobre ela, um prato jazia com farelos de pão.
Com um estrondo alto que ecoou pelo corredor escuro do andar em que morava, a porta da entrada de seu apartamento abriu chocando-se contra a parede com força e uma rajada de um vento frio invadiu o local.
Edward acordou subitamente de um leve cochilo no sofá, levantou-se e preguiçoso, arrastou os pés pelo chão frio e liso até a porta, fechou-a sem qualquer barulho e voltou seus olhos para o relógio redondo posto na parede. 8:00 horas, sua namorada chegaria as 10:00, havia tempo de sobra para arrumar o local, tomar um belo banho quente e talvez, pedir a sua janta, uma grande pizza.
Foi até o quarto com movimentos lentos e cansados, recolheu o prato e levou-o até a pia, não com mais velocidade do que fez qualquer coisa anteriormente, com sua mão livre, coçou o olho e procurou tirar qualquer tipo de sujeira ou meleca que pudesse assustar a garota.
- Talvez aconteça hoje. – disse a si mesmo enquanto dobrava um cobertor que cheirava a mofo. – Talvez ela até durma aqui, é tarde, não vou deixar ela ir embora sozinha... talvez ela queira transar comigo!
Edward namorava uma garota a quase três meses, ela não era virgem, de forma alguma, mas sempre parou qualquer iniciativa do rapaz com alguma desculpa esfarrapada, isso deixava o Edward nervoso.
- Será que tenho alguma camisinha perdida? – se perguntou enquanto jogava a coberta dobrada sobre a cama. – Faz tempo desde a minha ultima transa, foi com aquela bêbada no banheiro de uma balada. – terminou, sentiu um leve formigamento entre as pernas e sorriu.
Depois de arrumar o pequeno apartamento, olhou novamente para o relógio, quase 9:00 horas. Ele precisava de um banho, sentia um cheiro horrível emanando de todo o seu corpo suado, havia trabalhado até mais tarde naquele dia, recebendo um dinheiro a mais para o dia de hoje. Seu cabelo estava oleoso por causa do muito suor que escorreu enquanto estava no ônibus lotado.
- Nenhuma garota vai sequer olhar pra mim com essa cara. Muito menos chegar perto com esse cheiro de porco suado. – resmungou.
Pego sua toalha estendida em uma pequena cadeira de madeira, onde moravam alguns cupins, colocou-a sobre o ombro, pegou uma muda de roupas dobradas e foi para o banheiro sujo escuro e com um leve cheiro de esgoto.
Ascendeu a luz usando o interruptor ao seu lado e caminhou até a pia em dois passos curtos, colocou a roupa em cima e pendurou a toalha em um gancho de ferro preso a parede, depois, despiu-se, jogou a roupa em um canto no chão e abriu o chuveiro entrando em baixo dele logo em seguida, no começo, a água estava fria, mas logo esquentou seu corpo, fazia frio e a água quente lhe dava novas forças depois de um dia cansativo.
Seu corpo corou enquanto a água lhe esquentava, depois de um tempo, começou a passar o sabonete pelo corpo sem pressa, mas antes de qualquer outra coisa, o chuveiro deu um forte estalo e uma luz ascendeu em um fio verde que ficava para fora da parede, em seguida a água deixou de ser quente e tornou-se muito gelada e Edward estremeceu e resmungou.
- Cacete de chuveiro velho!
Desligou o chuveiro o mais rápido que pode e estendeu o braço a procura da toalha, não encontrou, olhou para o gancho de ferro e ele estava vazio.
Pegou a toalha de rosto na pia, pensativo e começou a secar seu corpo magro com aquele pedaço de pano minúsculo, colocou o short, mas antes que pudesse vestir a camiseta que havia pego, ouviu um barulho alto vindo da sala, como de um vidro se estilhaçando.
Abriu a porta e olhou, a sala, cuja estava escura e se perguntou se havia desligado a luz, quando ouviu um barulho vindo do quarto.
Ladrões, pensou na mesma hora.
Fechou a porta do banheiro e fechou o trinco, quem quer que fosse, não iria o levar embora, talvez fosse alguém vindo atrás dele por causa do seu passado estranho.
Apagou a luz do banheiro de modo que a única claridade no aposento vinha da pequena janela no alto do lugar, parou de frente para a pia e jogou a cabeça para trás com os olhos fechados, abriu a torneira de modo que uma fina linha de água caia na pia, molhou as mãos e molhou o rosto em seguida tentando por os pensamentos em ordem.
- Acho que estou ficando paranóico. – disse ele olhando para o espelho. – talvez tudo isso seja coisa da minha... – parou, quando fitou o espelho com cuidado.
Uma mancha vermelho-escuro pintava seu rosto com uma grossa camada, olhou para as mãos e elas também estavam com essa cor, deu um grito alto e olhou para a pia, o que antes era água que saia da torneira, parecia... sangue.
Limpou o rosto com a camiseta que estava perto e saiu do banheiro, atravessou a sala com os punhos cerrados e passos longos e firmes até que sentiu algo penetrando na sola de seu pé descalço, com um gemido abaixou-se e viu um fino caco de vidro rasgando sua carne, arrancou-o e percebeu quando olhou para cima, a luz estava apagada porque a lâmpada havia explodido.Riu para si mesmo.
- Que idiota que eu sou. – pensou pondo a mão no rosto.
Mas, a mancha de sangue na mão era real, fazia muito tempo que não usava qualquer tipo de droga, havia parado com isso e não iria voltar. Após resmungar, ouviu um barulho estranho vindo de seu quarto.
- São só alucinações, não tem nada lá. – repitiu pra si mesmo algumas vezes enquanto ia em direção a mesa.
Pegou a faca que estava lá em cima, empunhou-a com força e foi em direção ao quarto, cujo a porta estava fechada. Eu não a fechei, pensou.
Abriu a porta de madeira fina lentamente, fazendo mais barulho do que esperava, não havia nada lá, nada anormal. Suspirou aliviado.
Virou-se para a sala, e então, seu coração saltou forte. Na parede havia uma mancha enorme de sangue, de quase dois metros se estendendo horizontalmente, como se uma mão sangrando tivesse passado por ela, ele conseguiu perceber algo parecido com dedos no final da linha, colocou a mão na boca e esfregou os olhos, ela ainda continuava lá.
Correu em direção ao telefone, que estava sobre um balcão e começou a discar o numero da sua namorada quando a campainha tocou, Edward jogou o telefone no gancho e disparou em direção da porta sem olhar para a mancha.
Estava com medo, mais medo do que já teve em toda sua vida, um frio estranho penetrava em seus ossos como estacas de gelo e a faca tremia junto a mão suja de sangue, pingando.
Olhou no olho-magico e viu um vulto de um homem parado de costas, usava uma jaqueta, de couro talvez, mas, havia algo errado, ele virou-se para o olho mágico, seu olho era completamente negro e sem brilho, seus lábios sem cor e sua pele muito branca, ele murmurou algo olhando para o olho-magico, Edward perdeu então o pouco controle que havia sobre seu corpo, abriu a porta com toda a força, forçando-a a bater com força na parede. Cegos de ódio e loucura, pulou sobre o vulto e empurrou a faca sobre sua carne macia, fez isso varias vezes, estava com ódio, com dor e com medo.
Quando a adrenalina baixou, ele olhou para o corpo sem vida que segurava entre os braços, era Gabi, sua namorada, e em sua testa, estava escrita com cortes profundos “vingança”.
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